segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Saudades meu pai...

Em alguma época da minha vida, quando eu estava ainda no agora extinto segundo grau, alguém me mostrou esse texto. A verdade é que ele é meio brega, mas sempre quando a saudade aperta, penso nele.

Saudade, por Miguel Falabella
“Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave para sentirmos tanta saudade."
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido as aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo suco, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua cantando tão bem, se ela continua detestando o McDonald's, se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...
Miguel Falabella


Dia 17 de setembro de 2006 eu começei a sentir uma saudade que nunca passa e que a cada dia fica maior. Meu pai, meu paizinho, meu herói, meu espelho se foi. Se passaram dois anos. Graças a Deus eu voltei a sorrir, mas a minha vida ficou mil vezes menos iluminada sem ele. Não se passa um dia sequer sem que eu tente falar com ele, lá, onde ele estiver para tentar sentir um pouquinho ele dentro do meu coração. Nunca contei isso para ninguém, mas quando a saudade destrói a minha alma, procuro a estrela mais brilhante no céu e falo com ela. Nesses momentos tenho certeza que ele me escuta, me entende e guia meus pensamentos. Como é difícil viver sem ele e ao mesmo tempo viver com ele tão presente na minha vida, sempre em pensamento, sempre no meu coração. Queria tanto poder abraçar ele hoje, mais uma vez, mais um minuto, dizer que eu amo ele para sempre e cada dia mais. Vou lembrar pra sempre dos churrascos de domingo, das palhaçadas quando alguém ligava e ele fazia se passar pelo Manuel da padaria, das noites escutando música clássica, da sua inteligência infinita, do teu amor incondicional... Pai, eu te amo. Saudade eterna e cada dia maior.